Cresci assistindo os noticiários de violência que acontecem no Estado do Pará. Movimento de Garimpeiros termina em chacina na Ponte Rodoferroviária de Marabá! Sem terras são massacrados na curva do S em Eldorado dos Carajás! Sindicalista é assassinado na porta de casa em Rondon do Pará! Família é executada em Morada Nova! Freira Americana é assassinada em Anapu!
Essas notícias passaram a fazer parte da cultura de impunidade que impera no Estado, e principalmente na região Sul e Sudeste. Recentemente, mais dois crimes aconteceram! Desta vez contra um casal de ambientalista que vivia e sobrevivia da floresta.
José Claúdio e Dona Maria trabalhavam normalmente em seu pedaço de terra sem agredir a natureza. Dela extraia e beneficiava a castanha do Pará, da andiroba, da copaíba, do cacau, do cupu... Extraiam da floresta os derivados e transformavam-os em cosméticos, remédios e alimentos que eram comercializados nos municípios da nossa região.
Mas também lutavam contra o desmatamento! Isso foi o que mais incomodou os carvoeiros e os madeireiros do município de Nova Ipixuna. Denunciaram o assédio que esses faziam no Projeto Agroextrativista Praia Alta Piranheira e por isso foram covardemente assassinados.
Estive participando de uma atividade da turma de Especialização em Educação Ambiental, nesse Projeto Agroextrativista e constatei o quanto esse casal era importante na luta em defesa das florestas. Na residência do casal tudo estava como eles deixaram!
As sementes na estufa, o boné do Conselho Nacional dos Produtores Extrativistas sobre a mesa, e o gato e um cachorro que visivelmente esperava na pura espera a chagada de Zé Claúdio e Dona Maria.
O gato ainda miou, como se estivesse perguntando pelos seus donos, agora o cachorro sequer levantou... Parece que já sabia que nunca mais veria os seus donos, por isso permanecia imobilizado e em estado de greve animal há exatamente um mês.
Dois meses antes, o professor José Pedro havia acertado com a Dona Maria na UFPA a nossa visita para conhecer essa experiência agroextrativista, mas por conta do período chuvoso a própria Dona Maria que era também aluna do curso de Pedagogia do Campo, sugeriu que esperássemos o verão chegar, pois as estradas não estavam conservadas.
Assim foi feito, chegamos à majestade (nome dado a uma árvore de estimação do casal) ansiosos para conhecer essa experiência agroextrativista, mas faltaram o Zé Claúdio e a Dona Maria para nos receber, assim como era de costume fazer com tantas outras turmas de estudantes e pesquisadores.
No local onde o casal foi assassinado, sobre o pé de uma imensa árvore, foi erguida uma pedra com uma das várias denúncias que o Zé Claudio e Dona Maria fizeram: “o que fizeram com o Chico Mendes no Acre e com a Irmã Dorath em Anapu, querem fazer também com a gente... E realmente eles fizeram!” Mataram no ano internacional das florestas quem defendiam as florestas, deixando um vazio no coração da Amazônia e dos ambientalistas que permanecem vivos, lutando para que as nossas florestas não virem carvão para alimentar a ganância dos capitalistas.
Fonte: texto elaborado por Raimundo Moura, 27 de junho de 2011.