sábado, 25 de agosto de 2012

OSVALDÃO

De barba e sujo, Osvaldão, 35 anos, estava sentado atrás de uma moita, sem o vigor da lenda, longe de ser a figura do lutador de boxe e do dançarino elegante dos cabarés. O mateiro Arlindo Piauí percebeu sua presença na área. Chamou-o pelo nome. Osvaldão abriu com as duas mãos a moita. Ao ver o rosto dele, Piauí apontou a espingarda para a barriga do guerrilheiro e atirou. Um sargento, na retaguarda, se aproximou e acabou de matá-lo. O corpo foi colocado num saco de lona verde e amarrado no esqui de um helicóptero. O aparelho estava a dez metros do chão quando a corda arrebentou, quebrando o tornozelo esquerdo do cadáver. Novamente, o corpo foi amarrado. O helicóptero sobrevoou Xambioá e os castanhais para não haver dúvidas da morte do mito. Pela manhã, o corpo chegou à base de Xambioá. Alguns moradores estavam presentes no velório, para que a notícia da morte do guerrilheiro se espalhasse. No terreno da base, perto de uma cova aberta por mateiros, Curió observou o corpo que estava estendido numa maca. A cabeça e os pés de Osvaldão não cabiam ali. Fonte: NOSSA, Leonencio. Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. (pag. 206).

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